25.8.05

Preconceito social travestido de debate cultural

Segue (bem) abaixo uma reportagem que recebi por e-mail, na lista do Fórum dos Músicos. Foi publicada pelo jornal A Hora do Povo e escrita pelo reporter Ricardo Fernandes.
O texto traz estatísticas que demonstram muito bem o momento que a indústria fonográfica do país vive. As grandes gravadoras multinacionais, chamadas de majors estão produzindo cada vez menos títulos novos em CD. No entanto continuam dominando a mídia eletrônica brasileira, principal vitrine de venda da indústria da música. Tudo isto a custa de jabá, pacotes publicitários ou qualquer outra nome que se dê às formas de se pagar dinheiro para tocar música numa estação de rádio ou TV. Sempre é bom lembrar que o uso do espectro eletromagnético é da União (da nação brasileira) e que uma concessão é expedida pelo governo federal para que empresas a explorem comercialmente.

A matéria contextualiza bem os diversos ângulos da questão mostrando o absurdo, onde centenas de lançaentos não conseguem exposição pública porque as majors compram 90% do horário das rádios utilizando subsídios concedidos pela lei. Dinheiro dos impostos.

Tenho apenas uma séria crítica ao texto. Uma questão que tem passado camuflada e abafada nos meios intelectuais e da indústria toda vez que se discute o espaço da produção independente: o preconceito e a xenofobia dentro da classe musical.Toda vez que se reclama espaço para a produção independente na mídia é utilizada a argumentação de que música de QUALIDADE (o destaque é meu) enquanto criações de gosto duvidoso são promovidas pelo dinheiro das grandes corporações.

Na minha opinião isto demonstra que a classe musical não está unida na sua luta contra o monopólio das majors. Nao é de hoje que digo que quando se paga jabá para a música do Caetano Veloso tocar na novela ninguem no andar de cima de nossa sociedade (como diria Elio Gaspari) reclama: músicos, intelectuais, pessoas de gosto educado todas ficam satisfeitas quando a musica genial do grande compositor baiano flui pelos canais das majors para dentro de nossos lares pelas TVs e rádios FM.

O problema é quando pagode, música sertaneja ou de outras MINORIAS (outro destaque meu) flui pelo largo canal da indústria multinacional da mídia. Ressaltei a palavra minorias porque o público que aprecia o pagode e a música sertaneja é na verdade a maioria da população brasileira, embora a classe trabalhadora careça de poder de expressão político-social. A meu ver o que se estabelece aqui a meu ver é uma disputa na arena social pela hegemonia do discurso musical e tambem uma briga pelo espaço comercial (mesmo que disfarçada de discussão estética). Mas uma vez a pequena camada letrada, polida e ilustrada da população brasileira condena a expressão das camadas economica e socialmente inferiorizadas. Pergunta: inferiorizadas por quem? Pelas camadas dirigentes. Fazendo uma alusão ao Rio de Janeiro poderíamos dizer que ainda a turma da zona sul continua querendo "que a população da zona norte fique pra lá do tunel, pra não incomodar o domingo de praia". Da mesma forma que os senhores de engenho acusavam os trabalhadores de preguiçosos para justificar o muito pouco que lhes pagavam, os guardiães do bom gosto musical classificam a música do andar de baixo como sendo de mau gosto, para justificar seu banimento da mídia.

Que fique bem claro: adoro Caetano Veloso. Aliás ele em diversos momentos sinaliza para este preconceito e investe lucidamente contra ele, eterno tropicalista que é, ao gravar canções de compositores populares como Peninha ou trabalhando na trilha sonora do filme Dois Filhos de Francisco, que retrata a vida dos cantores sertanejos Zezé Di Camargo e Luciano, dois alvos constantes das patrulhas intelectuais dos letrados brasileiros.

Quando observamos músicos e jornalistas brasileiros denunciando empresas multinacionais de promover outros músicos, brasileiros também, acusando estes de baixa qualidade artística ou musical, entramos num lamaçal ideológico-antropológico-musical de difícil saída. Percebe-se críticas musicais encobrindo o preconceito social. Sem um maior nível de tolerância e de compreensão mútua da complexidade e variedade da musicalidade brasileira, sem abandonar o preconceito contra o processo de industrialização da cultura, será difícil unificar a classe musical no processo de desenvolvimento da produção musical independente em níveis saudáveis e benéficos para toda a população do país. Eu disse toda a populaçao, não apenas o andar de cima. Não se trata de discutir a música que se gosta de ouvir, mas de reconhecer que a música de todos os criadores brasileiros, independente de classe social ou forma estética, tem direito de ser veiculada com igualdade na mídia nacional. Sem excessos, nem para um lado nem para outro. Não desejo nem a ditadura do dinheiro da grande indústria nem o autoritarismo do bom gosto do stablishment intelectual, da inteligentzia. Ninguem neste país precisa que outros decidam a música que se deve ouvir. Nem os departamentos de marketing das majors nem os intelectuais rodando em mesa de bar (yeah yeah yeah…).

Bom. Leiam o texto e opinem. Os posts são abertos a todos neste blog. O debate é livre, franco e saudável.

Militão

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JORNAL A HORA DO POVO

ESCRITO POR: RICARDO FERNANDES

 
Multis produzem só 6% da música gravada no Brasil 

“Majors” transformaram-se em importadoras de discos produzidos pelas suas matrizes, usando o disfarce do licenciamento para abocanharem a compensação do ICMS, que usam para pagar jabá

Com uma produção imensamente maior e de melhor qualidade, as gravadoras nacionais independentes continuam a ser as principais responsáveis pela produção da boa música brasileira, enquanto as gravadoras multinacionais (Sony/BMG, Emi, Warner e Universal), com ínfimos 6,23% dos lançamentos de música produzida no Brasil, mantêm o monopólio dos meios de comunicação e divulgação com a famigerada prática do “jabá” pago às rádios e redes de televisão. 

QUALIDADE 

De janeiro até o início deste mês de agosto, apenas 100 das mais de 200 gravadoras nacionais, lançaram 361 discos de música brasileira em todo o país. Entre alguns desses lançamentos estão “Bem que Mereci”, de Elton Medeiros (Acari), “Timoneiro”, de Hermínio Belo de Carvalho (Biscoito Fino), “Viola Violão”, de Paulinho Tapajós e Marcelo Lessa (Dabliú), “Ouvido Uni-vos”, de Luiz Tatit (Dabliú), “Violão e Voz”, de Moacir Luz (Deck), “Vaidade”, de Djavan (Luanda), “Nos Horizontes do Mundo”, de Leila Pinheiro (Biscoito Fino), “Antologia da Canção Brasileira – Vol. 1”, de Léa Freire e Bocato (Maritaca), “A Saga de Juca Tito – Cantata Popular Nordestina”, do Quinteto Violado (CPC-UMES), entre muitos outros. Ainda estão nas listas de lançamentos feitos estes anos pelas independentes nomes como: Vinícius Dorin, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), Mauro Senise, Chico Pinheiro, Mané Silveira, Caíto Marcondes, Thiago Espírito Santo, André Mehmari, Ná Ozzeti, Heloísa Fernandes, o grupo Choro Elétrico, Celine Imbert, Hamilton de Holanda, só para citar alguns dos artistas que compõem o elenco das independentes. 

“MAJORS” 

Por outro lado, as “majors” lançaram meros 24 títulos de artistas nacionais no mesmo período: 6 da Universal, 3 da Warner, 11 da EMI e 4 da Sony/BMG. E, mesmo assim, de “artistas” do quilate de B5, Mulekes, Kelly Key, Kid Abelha, Raça Negra, Rapazzola, Alex e Conrado, Frank Aguiar, Exaltasamba, Nalanda, Cheiro de Amor, Edson e Hudson, Danny Carlos, entre outros “gênios”.

Para não falar na diferença de qualidade, ficando restritos à quantidade de discos oferecidos nestes sete meses, a Biscoito Fino apresentou 10 novos títulos, a CPC-UMES colocou no mercado 6, a Dabliú produziu 5 e a Maritaca lançou 7, só para ficar em poucos exemplos. Apenas 4 gravadoras nacionais citadas acima lançaram 28 CDs de música brasileira, contra os 24 do cartel.

Com exceção dos lançamentos de “A Vera”, de Zeca Pagodinho, “Brasilatinidades”, de Martinho da Vila, e “Baião de Dois”, de Dominguinhos e Elba Ramalho, fica claro que, quanto à vitalidade cultural e musical do Brasil, a participação das multis é quase nula. 

JABÁ 

Não satisfeitas em promover e produzir primordialmente o pior que existe em nossa musica, as “majors” também impedem que o público tenha acesso à maior parcela do que de melhor se produz em termos de música brasileira. Como? Através do jabá pago às rádios e redes de televisão que, exaustivamente, só executam e divulgam os artistas delas, que se caracterizam, principalmente, por serem enlatados e grosseiras imitações do pior da música estrangeira ou “fast-music”, fórmulas “musicais” inspiradas nos truques da produção publicitária.

Hoje, como já denunciamos aqui na Hora do Povo, está nas mãos desse cartel 90% do espaço dedicado à música nas rádios e televisão, porcentagem que se repete em relação à venda de discos. Com seus 24 lançamentos, as multis monopolizam a divulgação, enquanto a imensa e rica produção independente nacional fica com apenas 5% da execução nos meios de comunicação e, conseqüentemente, das vendas – os outros 5% pertencem à Som Livre, da Globo, que conta com poder econômico e fácil exposição na mídia, mas que esse ano produziu apenas coletâneas das suas novelas. 

CRISE 

O resultado dessa política monopolista é a crise que assola nosso mercado fonográfico e que fez o Brasil cair de 6º para 13º lugar no ranking mundial de vendas. Nesse sentido, de acordo com dados publicados no anuário “Mercado Brasileiro de Música”, publicado pela ABPD (Associação Brasileira de Produtores Discográficos), em 1997 foram vendidas 107 milhões de unidades contra 56 milhões em 2003, o que representa uma retração de 47,66 %. 

ICMS 

Mas, por que o cartel insistiria, ano após ano, em pagar suborno para rádios e TVs tocarem só as suas “músicas de trabalho”, só os seus “artistas”, se ano após ano, suborno em cima de suborno, as vendas caem vertiginosamente? É que a dinheirama gasta nessa corrupção deslavada não é deles, é dinheiro público, vem da isenção de ICMS. Essa isenção destinava-se, originalmente, ao pagamento de despesas de produção. Diversas deformações e espertezas jurídicas travestiram o “jabá” em suposto custo de produção. Segundo dados fornecidos, em 2003, a Pedro Alexandre Sanches, em entrevista à Folha de S. Paulo, pelo atual comissário do “Ano do Brasil na França” e por mais de 40 anos executivo da indústria fonográfica, André Midani, a despesa anual das “majors” com jabá, no Brasil, fica entre R$ 71 milhões e R$ 95 milhões. 

PICARETAGEM 

De lá para cá, com as vendas caindo e, conseqüentemente, o ICMS caindo, o cartel desenvolveu a picaretagem à excelência: como a sua principal atividade é importar CDs das suas matrizes, e importador não tem a tal isenção do ICMS, as matrizes licenciam (autorizam a reprodução) às suas sucursais os CDs que querem vender no Brasil. Dessa forma, as sucursais das multinacionais aqui instaladas reproduzem o CD licenciado – na maioria esmagadora dos casos sequer traduzem os textos impressos para o português - e passam a mão no ICMS, cuja isenção é exclusiva para a produção nacional. 

MANIPULAÇÃO 

Embora as multis fiquem se fazendo de vítimas, culpando a pirataria pela crise, é fácil constatar que a venda de CDs não autorizados é apenas uma das conseqüências da escusa estratégia de corromper os meios de comunicação para manipular a demanda e concentrá-la sobre um número cada vez mais reduzido de lançamentos. Não é à toa, que os míseros 24 lançamentos realizados este anos pelas “majors” são facilmente encontrados em qualquer banquinha de camelô.

Esse é o panorama atual do nosso mercado, onde o monopólio das multis flagela a imensa produção de qualidade das gravadoras nacionais impondo ao grande público brasileiro, através da execução exaustiva em rádios e TVs, um número pequeno de “artistas” que nada têm a acrescentar à nossa cultura, e que inclusive desmerecem a nossa riquíssima tradição musical, cujo principal estandarte é a produção independente.

RICARDO FERNANDES 
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Agora é a vez de vocês. Aguardo pelos posts para o debate. Um abraço
Militão


Militao Ricardo
Musico, Jornalista, Produtor Musical e Professor.
mrmaya@uol.com.br

18.8.05

Pagamento de "jabá" deve persistir no país

Fonte: Folha de S. Paulo - 1/8/2005 - Por Thiago Ney

No início da semana passada, um promotor de Nova York ganhou disputa judicial contra a Sony BMG, e a gravadora foi obrigada a pagar US$ 10 milhões (R$ 24 milhões) de indenização por ter oferecido somas financeiras a DJs e programadores de rádios para ter músicas de seus artistas veiculadas. Em bom português, pagava jabá. Comemorado em princípio, o resultado não deve, porém, ter resultados práticos nem lá nem aqui. Essa é, pelo menos, a opinião de gente ouvida pela Folha.

"Nos EUA já houve ações como essa nos anos 50, nos anos 60 e em meados dos anos 80. Nunca conseguiram acabar com o jabá. Não encontro elementos que me façam acreditar que isso será erradicado por causa dessa multa", disse João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora Trama. "Não é uma vitória contra o jabá, apenas um referencial", afirma o cantor Lobão. "É um bom momento para que a opinião pública discuta os prejuízos que isso causa à formação musical".

O problema é antigo no Brasil -há quem diga que a partir dos anos 60 programadores de rádios começaram a receber para tocar determinadas músicas. Em 2003, o deputado Fernando Ferro (PT-PE) levou ao Congresso projeto de criminalização da prática do jabá. A proposta está parada. "É um assunto tabu nesse meio. A lei pode até não resolver completamente o problema, mas criará empecilhos para aqueles que praticam isso de forma escancarada", afirmou o deputado.

Atualmente, o jabá está maquiado e foi institucionalizado como "verbas de promoção": as gravadoras compram espaço publicitário nas rádios e, em troca, têm seus artistas veiculados. "Isso é criminoso. É venda de espaço público", indigna-se Lobão. "Estão tentando moralizar o jabá. O Brasil é o país do jabá. O "mensalão" é um grande jabazão..." Para Bôscoli, a prática poderia ser mais "transparente". "As gravadoras estão com menos grana, então o dinheiro de promoção diminuiu muito. Não é a solução, mas seria mais transparente se o locutor anunciasse: "Você está ouvindo essa música como patrocínio da gravadora tal".
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Militao Ricardo
Musico, Jornalista, Produtor Musical e Professor.
mrmaya@uol.com.br

15.8.05

Independente ou major: qual a melhor opção?

Transcrevo um e-mail que recebi da lista do Fórum Gaúcho dos Músicos. É um artigo que fala sobre a atual opção de lançar um CD por uma gravadora independente. Vários artistas consagrados da MPB estão fazendo esta opção. Não consegui confirmar a fonte do artigo, que é´interessante.
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12/8/2005
Os dois lados do disco
JB - João Bernardo Caldeira

Chico Buarque é o mais novo reforço do time dos independentes, juntando-se a nomes como Maria Bethânia, Gal Costa, Djavan, Milton Nascimento e Paulinho da Viola. A notícia de que o cantor lançará um disco pela gravadora Biscoito Fino, veiculada na última sexta-feira, reforça a tendência crescente entre os artistas de evitar as companhias multinacionais, enfraquecidas pela crise da indústria fonográfica. Com inscrições iniciadas anteontem, a premiação do festival Oi Tem Peixe na Rede aquece a discussão sobre a melhor maneira de um iniciante construir sua carreira. Idealizado por Bruno Levinson - organizador do bem-sucedido festival de novos talentos Humaitá Pra Peixe -, o evento permitirá ao vencedor a gravação de um disco pela major Sony-BMG. Mas ainda vale a pena o sonho de ingressar numa multinacion al? Executivos do mercado, produtores e novos artistas divergem sobre o tema.

- Acho recalque alguém dizer que não quer entrar numa gravadora, que poderá financiar a gravação do CD e distribuí-lo no Brasil inteiro
- diz Levinson, indicando que as eliminatórias do Oi Tem Peixe na Rede serão realizadas no site www.oi.com.br.

- Não acredito que exista um iniciante que prefira permanecer no circuito independente. Mas é claro que o artista não pode delegar seu sonho para uma empresa: ele tem que trabalhar - acrescenta, enfático.

Produtor de nomes como Rappa, Otto e da banda iniciante Zeferina Bomba, Carlos Eduardo Miranda coordena o site www.tramavirtual.com.br, iniciativa pioneira no país que coloca no ar gratuitamente mais de 37 mil composições cadastradas de artistas independentes. Ainda que elogie a competência da comissão julgadora do Oi Tem Peixe na Rede - composta, entre outros, por Dado Villa-Lobos, o produtor Mauricio Valladares e pelo próprio Levinson -, Miranda lamenta a premiação.

- Uma banda que se preza não sonha em entrar numa multinacional, porque isso é quase um castigo: o cara é triturado por uma máquina e vítima de estratégias de marketing. Portanto, esse festival não deve atrair artistas autênticos. O prêmio é ruim. Valeria mais ajudar o mercado independente do que funcionar como um filtro para uma gravadora.

Quando Miranda fala em castigo, refere-se, provavelmente, a dezenas de novatos que tiveram de adaptar sua sonoridade à exigida pelas majors, tendo de aceitar, por exemplo, a participação de um produtor mais 'antenado' com o mercado. Quando não apresentam resultados, esses músicos em início de carreira costumam ir para a geladeira. Além disso, seus discos podem sumir das prateleiras, já que as gravadoras é que são donas do fonograma.

Luis Carlinhos é ex-vocalista da banda Dread Lion, cujo disco de estréia foi lançado pela Sony Music nos anos 90, quando ainda se apostava em vendas mirabolantes. As estimativas não foram cumpridas e o grupo deixou a companhia, como aconteceu com bandas como Devotos, Coração Tribal, Lampirônicos, Squaws e Relespública em diversas gravadoras. Luis tenta explicar o fenômeno:

- Percebi muitas deficiências: o marketing pensa que todos devem vender milhares de cópias, e o público alvo da nossa banda não foi estudado. Por conta dessa visão imediatista, vi discos gravados que sequer foram lançados.

Diretor artístico há 12 anos da Universal Music, Max Pierre reclama que quando um disco não dá certo as pessoas sempre responsabilizam a companhia:

- Quase sempre a culpa de um projeto mal-sucedido recai sobre os ombros da gravadora, e isso não é justo. Até porque o maior prejuízo fica somente do lado de cá. Temos alguns exemplos de artistas novos que, saídos de selos pequenos, tiveram suas carreiras alavancadas, como Babado Novo, Rapazolla, Jeito Moleque, Marjorie Estiano e Helião & Negra Li.

Alexandre Schiavo, presidente da Sony-BMG, está feliz da vida com o Tem Peixe na Rede. Para ele, o 'o grande atrativo do projeto é que novos talentos serão descobertos'. Ele considera positivo o crescimento do setor independente, já que as majors não podem mais impulsionar sozinhas a indústria musical, devido aos altos custos de produção e promoção:

- Existem vários selos independentes executando ótimos projetos. E a gravadora não deve ser vista como o único meio de trabalho para um iniciante. Procuramos dividir com nossos artistas os riscos, o sucesso e até mesmo o fracasso, e aprender com eles. As companhias serão mais leves e eficientes se entenderem que não precisam carregar todo o mercado de música.

Atraídos pelo crescimento de gravadoras independentes como Deck Disc, Trama, Indie Records e Biscoito Fino, medalhões e iniciantes estão cada vez mais distantes das majors, Universal Music, EMI, Warner Music e Sony-BMG (recentemente fundidas). Há também dezenas de selos pequenos espalhados pelo país, como Monstro Discos, T-Rec, Astronauta, Tamborete, Midsummer Madness, Nikita, London Burning, Rob Digital, Fina Flor, Lua Discos, Kuarup, MCD, Azul Music, Albatroz, Candeeiro, Sum Records...

Para Paulo André, organizador do festival Abril Pro Rock e empresário da Nação Zumbi, há vantagens técnicas na permanência em um mercado independente:

- Em termos de promoção, o que uma major faz, uma banda articulada também consegue. Além disso, as majors são donas do fonograma para o resto da vida, tanto que gente como Gal Costa e Djavan está saindo desse esquema. No caso de um artista com potencial internacional, ele pode ser lançado no exterior por um selo que não tem o seu perfil. Certa vez David Byrne quis lançar um CD da Nação Zumbi nos Estados Unidos, mas a Sony não permitiu e o disco saiu num selo para latinos.

Prego, baterista do grupo gaúcho Pata de Elefante (cujo trabalho de estréia foi lançado pela Monstro), conta sua opção:

- A gente não despreza nenhuma major, mas elas estão quebrando. Podemos descobrir nosso próprio nicho e público alvo.

Com atuação significativa no circuito independente carioca, Bruno Levinson se justifica por incentivar, por meio de seu novo festival, que a multinacional permaneça sendo o maior sonho de consumo dos jovens:

- Nunca ensinei ninguém a ficar para sempre no mercado independente. Quero que as pessoas desenvolvam suas carreiras, não importa aonde. As gravadoras já conseguiram lançar muitos artistas que estão aí até hoje. Elas não são a única opção dos artistas, mas continuam a ser um dos caminhos.
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Militao Ricardo
Musico, Jornalista, Produtor Musical e Professor.
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11.8.05

iTunes chacoalha a Sony no mercado japonês de downloads de música

A Apple recém abriu a loja iTunes no Japão e uma crise se instalou entre os artistas contratados da Sony Music naquele país. A gravadora Japonesa vende fonogramas pelo serviço da Apple nos Estados Unidos e em outros países, mas não fechou acordo com a empresa americana para incluir o catálogo japonês na filial nipônica do iTunes. A razão é porque a Sony tem o seu próprio site de venda de música por download no Japão.
O resultado disto foi que após as vendas do Itunes dispararem alguns artistas da Sony entraram em surto e exigiram que sua gravadora chegue a um acordo com a Apple. Caso contrário eles ameaçam fazer acordos individuais. A razão: o iTunes vendeu um milhão de downloads em quatro dias. O rival mais próximo vende 500 mil em 30 dias.

Fonte; http://www.macworld.co.uk/news/index.cfm?NewsID=12306 (10/8/2005)

Militao Ricardo
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4.8.05

Música independente representa a maior fatia do mercado global!

Segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica, a produção independente representa a maior fatia da produção fonográfica mundial. O relatório internacional de vendas divulgado em 3/8/2005 indica que os independentes são responsáveis por 28.4% do mercado global de música gravada. Em segundo lugar vem a Universal, com 25.5%. Em seguida estão a Sony BMG (21.5%), EMI (13.4%) e Warner (11.3%).

FONTE: http://www.macworld.co.uk/news/index.cfm?NewsID=12254 (4/8/05)

Militao Ricardo
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2.8.05

MP3: de quem é a culpa?

O cenário hoje em todo mundo da produção musical é de mudança. De um lado (o lado de cima) milhares (talvez milhões) de pessoas trocam arquivos de gravações musicais digitalizadas em MP3, através de seus computadores. Do outro lado (o de baixo) alguns milhões de CDs piratas são comprados por pessoas que tiveram acesso a equipamentos de som baratos, mas não tem dinheiro para comprar os CDs das gravadoras.

De um lado grandes gravadoras tendo redução de vendas, enxugando orçamentos, demitindo pessoas e gastando milhões de dólares numa gigantesca campanha de intimidação e punição contra quem?? … seus clientes! Patética situação. Parece um “harakiri comercial”. Nunca na história a grande indústria fonográfica se declarou tão preocupada com a defesa dos interêsses de seus artistas.

De outro lado empresas de hardware vendendo milhares de gravadores de CD para equipar os mesmos computadores que copiam CDs e gravam CDs domésticos com centenas de arquivos de MP3. Algumas empresas, como a Sony, possuem tanto fabricas de aparelhos eletrônicos com também de CDs e uma gravadora – a Sony Music. Outras grandes produtoras de hardware como a Apple estão vendendo MP3 players, tipo walkman, aos milhares. É a nova coqueluche nos Estados Unidos.

Não se trata aqui de defender o roubo de gravações musicais. Os criadores das obras musicais, os produtores e as pessoas que trabalharam para que o público possa usufruir música precisam ser remunerados para viver dignamente. O grande desafio é justamente estabelecer um sistem eficiente para vender estas obras a um preço justo. Mais fêz por esta causa a Apple Computers, que implementou com sucesso uma loja online de música em MP3, que está batendo recordes de vendas e provando que a maioria das pessoas está disposta a pagar pelos fonogramas digitalizados que escuta.

O que ainda não está bem discutido é o preço dos MP3. Na verdade o custo de US$ 0,99 por fonograma ainda é muito elevado. Se alguém comprar um álbum de 12 músicas vai pagar quase 12 dólares. Isto é praticamente o preço de um CD. Só que o download de arquivos elimina a fabrica de bolachinhas de plástico, o seu processo de estocagem, transporte, distribuição e venda em lojas. Por mais que hajam despesas de operação da loja online, estas não devem tão grandes quanto no sistema anterior. Assim é possível que grandes margens de lucro estejam ocorrendo. E o pior: o público está se acostumando a pagar um preço caro demais pelo dowload de música. Isto precisa ser esclarecido.

A interessante questão da indústria fonográfica ainda tem um lado interessante: a multiplicação exponencial da oferta de música no mercado. Nunca foi tão fácil gravar um CD. Vamos ver isto no próximo artigo.

Militão Ricardo
Músico, Jornalista, Produtor Musical e Professor.
mrmaya@uol.com.br